Dizem que a gente sabe. E eu soube, no exato momento em que você entrou pela porta e seu olhar passou direto por mim sem nem ao menos um sinal de reconhecimento. Então era assim que tudo chegaria ao fim? Você atravessou a sala e o azul dos seus olhos, que antes me fazia lembrar do mar e me trazia calma, mais parecia um iceberg; e, de repente, me vi congelando de frio, mesmo nos 40 graus do verão carioca. Seria aquele o famoso olhar de adeus?
Meu olhar continuou seguindo o seu contorno, seus passos firmes em direção ao quarto e, encolhida no sofá, ainda gelada pelo frio dos seus olhos, implorava baixinho dentro de mim: não me deixe, não me deixe. Volte a ser o meu mar particular. Mas como sempre, você não me ouviu. Você nunca ouviu.
Mesmo sem ver eu era capaz de saber exatamente o que se passava no quarto. Podia te ver andando até o closet e dobrando camisa por camisa, meia por meia antes de colocá-las, por grupos de cores, dentro da mala que compramos juntos em Bariloche. Porque nem mesmo em um momento como esse você deixaria sua organização de lado. Não, ao contrário de mim, você nunca perde o controle. E como tudo o mais, aquela ação não levaria mais do que 15 minutos. E como um maldito relógio que nunca atrasa, ali estava você novamente, parado à minha frente e, por alguns breves segundos tive a esperança de que você fosse dizer alguma coisa, fosse me implorar para te fazer mudar de ideia, te pedir pra ficar, mas então você apenas soltou um suspiro, pegou a mala e, mais uma vez, virou as costas pra mim.
E então, quando o som da porta batendo me atingiu, eu soube que nunca mais veria o mar com os mesmos olhos.
“Mas como sempre, você não me ouviu. Você nunca ouviu.” Perfeito.
Texto cheio de sutilezas, mas ao mesmo tempo intenso, pulsante e com um final arrasador.
Poxa, não tem como não ficar mega feliz com um elogio desses. 😀
Magnifico! Sublime!
Tão singular, tão particular, tão subconsciente!
Parafraseando Jung “Aquilo a que você resiste, persiste”
Excelente!
😀 Muito obrigada, flor! De verdade. Seus comentários sempre me deixam com um sorriso bobo por aqui.