O louco

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Subir aquela rua era a melhor parte do seu dia. Fingia não ver as risadinhas das meninas sentadas na árvore em frente ao famoso colégio, mas não se importava. Aquele era o seu momento, o momento mais esperado do dia, quando podia novamente sentir sua amada entre os braços, mesmo que fosse nos segundos efêmeros em que o vento, que sempre parecia soprar mais forte naquela esquina, atravessava o seu corpo. Ao abrir os braços, como que para recebê-la, ele podia sentir uma vez mais o seu perfume floral, a sensação dos cabelos compridos roçando pelo seu rosto e seu pescoço. E tudo o que ele gostaria, naquele instante, era de poder parar o tempo, parar o vento e mantê-la ali, com ele, como há muito tempo não podia mais.

Sabia que as pessoas que o viam subir uma das principais ruas da cidade e abrir os braços diante do nada o consideravam louco, mas louco ele havia sido anos atrás, ao deixar o amor da sua vida escapar por entre os seus dedos, por uma bobagem, pela maldita falta de confiança.

Ele viajou para tentar esquecer o que, mal sabia, nunca lhe sairia da cabeça. Ela, caluniada, sozinha, entrou em desespero e se enforcou, usando um dos galhos daquela árvore onde diariamente as meninas de uniforme sentavam para fofocar, provavelmente para falar das dores e das alegrias do amor. Ah, a juventude, elas ainda teriam tanto o que viver, o que aprender… quanto a ele, só lhe restava a culpa e os efêmeros segundos em que podia fechar os olhos e voltar ao passado. Ah se ele pudesse ser jovem novamente…

2 Comentários

Arquivado em Crônicas e Contos

2 Respostas para “O louco

  1. Isabella

    Tocante essa cronica, a nostalgia é uma forma de reviver os momentos inesquecíveis da vida!

    Afagos.

  2. tatyperry

    Estava conversando com uma amiga sobre a saudade e um conhecido vinha dizendo a mesma coisa hoje, sobre como mudamos e como às vezes sentimos falta do que passamos e de quem fomos e como outras vezes isso se torna um alívio. Acho que a nostalgia é uma chance de aprendermos com os erros e os acertos do passado. Só precisamos tomar cuidado com a forma como vemos o passado, afinal, tendemos a lembrar do passado sempre com um olhar saudoso e condescendente, quando em alguns casos, um segundo olhar mais atento, pode nos apresentar um outro quadro, mais próximo do real. Beijos

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