Sentada no parapeito da janela custo a perceber se o que me molha mais é a chuva que entra pela janela aberta ou as lágrimas que insistem em escorrer pelo meu rosto. Quanto tempo faz desde que você saiu? Uma hora, um dia, uma semana? Olho para fora e tenho a impressão de ver o seu rosto cheio de mágoa me encarando do outro lado da calçada, mas não tenho mais certeza do que é real e do que é apenas uma peça pregada pela minha mente cheia de culpa. Uma culpa que pesa, que castiga, que me puxa para um espiral escuro onde não consigo respirar e me vejo repetindo mentalmente “não era para ser assim, não era para ser assim”.
Ligo o rádio na esperança de espantar o silêncio que dói mais no meu ouvido do que aquele seu grito de gol quando o Botafogo finalmente foi campeão brasileiro, mas até os programadores das rádios do Rio de Janeiro parecem estar com raiva de mim e todas as estações pelas quais passo estão em alguma espécie de complô, tocando apenas músicas que me fazem lembrar algum momento nosso e eu juro nunca mais criar trilha sonora para os meus relacionamentos, antes de me dar por vencida e deixar que o silêncio invada novamente a casa.
Eu nunca quis ser a bruxa má, aquela que sussurraria o acabou que cairia no meio da sala como uma âncora afundando o barco, arrastando tudo o que visse pelo caminho em direção ao fundo do mar, abrindo o peito, dilacerando a alma, rasgando o coração, tornando impossível respirar. Mas a verdade é que mesmo não querendo, a gente mudou e postergar esse momento seria apenas empurrar o problema, seria trair tudo o que vivemos, mas principalmente, seria trair a nós mesmos. Uma separação nunca é justa, mas ela pode ao menos ser honesta.
A manhã traz com ela uma ventania que me desperta com o som de várias coisas caindo ao meu redor e apesar de toda a desordem sou capaz de respirar, ainda com dificuldade, mas um pouco melhor do que na véspera. A tendência é só melhorar. Pra você também!
As vezes “perder” significa GANHAR!
Na verdade acho que quase sempre é! 🙂