Em um apartamento pequeno em Copacabana, ele bebe para espantar a dor no peito. Não, ele não precisa de um cardiologista. Seu coração sofre de um mal que médico algum pode curar.
Do outro lado da Baía de Guanabara ela sobrecarrega seu dia e ocupa suas noites para não ter tempo de pensar. Pensar faz com que as coisas saiam do seu controle e traz a dor que ela tanto luta para manter num cantinho intocado do peito.
Bêbado, ele disca o número que não sai da sua cabeça, mas sempre desliga antes do segundo toque. Não está tão bêbado assim. E adormece digitando uma mensagem que não chegará a enviar.
Ao chegar em casa, mais cedo do que o normal, as lembranças dos muitos momentos dos dois compartilhados ali a atingem e por mais que ela tente pensar em outra coisa, não há mais jeito, seu cérebro – ou seria seu coração? – se recusa a obedecê-la por mais tempo.
Em Copacabana e em Niterói eles são consumidos pela mesma saudade.
Já falava nosso saudoso Rei do Baião
” Se a gente lembra só por lembrar
O amor que a gente um dia a gente perdeu
Saudade inté que assim é bom
Pro cabra se convencer
que é feliz sem saber
Pois não sofreu
Porém se a gente vive a sonhar
Com alguém que se deseja rever
Saudade intonce aí é ruim
Eu tiro isso por mim
Que vivo doido a sofrer
Ai quem me dera voltar
Pros braços do meu xodó
Saudade assim faz roer
E amarga que nem jiló
Mas ninguém pode dizer
Que me viu triste a chorar
Saudade, o meu remédio é cantar
Saudade, o meu remédio é cantar.”