Quando criança o óculos era a primeira coisa que as pessoas viam ao olhar para ela. Não demorou para que as outras crianças passassem por ela rindo, apontando e a chamando de “quatro-olho”.
Na adolescência, além dos malditos óculos, ela era desengonçada, magra demais, tinhas as pernas finas. Ganhara um novo apelido, Olívia Palito de óculos. Ouvia as amigas contando sobre o primeiro beijo, os amassos com os garotos e apenas sonhava que era uma garota “normal”, com direito a tudo isso também. Tentou usar lentes de contato, mas descobriu ser alérgica a elas.
Ao se ver livre da escola acreditou que na faculdade tudo seria diferente, mas desde o primeiro dia ficou conhecida como A Nerd, mesmo antes de abrir a boca para dizer qualquer coisa.
Pelo jeito as pessoas nunca estariam dispostas a ver o que havia por trás daquelas lentes e daquele jeito desengonçado de ser. Cansada, naquela tarde não foi direto para o seu apartamento ao chegar em casa, mas apertou o botão que indicava o terraço do prédio. Ao se equilibrar no parapeito viu as pessoas pequenininhas lá embaixo. Dali ela não saberia dizer quem usava óculos, quem era magro demais, gordo demais, manco, todos pareciam iguais. Seu primeiro ato foi se livrar dos óculos e nem piscou enquanto o objeto caía os 20 andares até se despedaçar na calçada, lá embaixo. Depois, foi a sua vez de abrir os braços e se jogar, sem pensar em nada nem ninguém. Ela só conseguia pensar na liberdade.
Nossa, esse realmente me deixou sem ar no final. Como “rótulos” podem realmente nos deixar sem rumo. Profundo.
Principalmente os da infância. Eles podem nos marcar para sempre. 😉