Estava no ônibus voltando para casa e a senhora ao meu lado contava, indignada, no celular, que alguém que ela conhecia estava vivendo uma relação em que era a outra. Eu até tentei aumentar o volume do meu iPod e pensar na conta do cartão de crédito que chegara mais cedo, mas não tinha para onde fugir, de repente ali estava eu novamente com 17 anos, nos braço dele naquele motel barato que costumávamos frequentar e que eu não trocaria por palácio nenhum no mundo, porque ali ele era meu e só meu.
Nem percam o tempo de vocês tentando criar justificativas mirabolantes. Coisas do tipo: “você era só uma garota ingênua e ele se aproveitou de você”. Quer dizer que aos 17 anos eu tenho discernimento o suficiente para votar, mas não para me apaixonar? Não, não acredito nisso.
Não gosto de mentiras e talvez você, leitor, esteja me achando uma puta de uma hipócrita agora. Mas o relacionamento dele com a mulher dele não dizia respeito a mim. Era um problema dele, um problema no qual eu nunca quis me envolver. Ele nunca me fez falsas promessas, nunca me prometeu largar tudo para ficar comigo e nem eu queria isso. Mas eu amei esse homem com toda a intensidade que uma garota de 17 anos é capaz de amar. E eu estaria mentindo pra mim mesma se fingisse não amá-lo. E eu sei que ele também me amou. Enquanto estávamos juntos, aquela era a nossa realidade, era a nossa história e ela era verdadeira. Não havia mentiras ali dentro e nós tínhamos o direito de viver aquele amor.
Ninguém escolhe se apaixonar, muito menos pelo homem/mulher de uma outra pessoa, mas não temos controle sobre isso. Pode nunca acontecer com você, mas também pode, quando você menos espera. Se tem uma coisa que aprendi é que a vida é uma vadia que adora pregar peças na gente. É claro que não estou falando de traidores inveterados, pessoas que estão pouco se lixando para a pessoa com quem se relacionam, que traem pelo simples prazer de se gabar, como se houvesse motivo para isso. Estou falando de sentimento. De estar com uma pessoa, ter sentimentos por ela e mesmo assim, por um capricho do destino, se ver apaixonado por outra.
A mulher do meu lado no ônibus continuava gritando “mas é um erro, é um erro. Ela vai se machucar no final.” Estava quase chegando ao meu ponto, mas não me aguentei, cutucando-a com um sorriso, antes de perguntar “e em um relacionamento considerado certo ela não pode se machucar também? E mais do que tudo, como o amor pode ser considerado um erro?”
Desci do ônibus com um turbilhão de lembranças inundando a minha mente, uma vontade absurda de saber como estaria a vida dele hoje, tanto tempo depois, mas mais do que tudo, com a certeza de que o amor nunca vai ser um erro.
“Se chorei ou se sorrir o importante é que emoções eu vivi” parafraseando Roberto Carlos