– Você sabe que eu nunca teria pulado, não sabe?
– De paraquedas comigo? Claro que sei.
– Também, mas não é desse salto que eu estou falando.
– Por que falar disso agora?
– Não sei. Às vezes me pergunto se você não está comigo apenas por pena do pobre menino depressivo com tendências suicidas, como diz aquela senhorinha de óculos do 202.
– Sério? E eu que achava que quem tinha problemas de vista era eu.
– Não é isso. É só que… ah deixa pra lá.
– Espera, só pra você saber, eu nunca te vi como um pobre menino depressivo com tendências suicidas. Nem mesmo enquanto você estava no alto daquela ponte, decidindo se pulava ou não.
– Não?
– Não. Você sabe que eu não sou do tipo que paro para ver essas coisas mórbidas que todo mundo adora, mas algo na sua situação me chamou a atenção logo de cara. Sei lá, você parecia tão pequeno naquela ponte imensa, tão carente de um abraço ou de alguém que te estendesse a mão e te mostrasse que podia haver outros rumos. E depois, quando você caiu em cima de mim e quebrou os meus óculos, eu simplesmente esqueci de tudo, porque você imediatamente se tornou o borrão mais perfeito do mundo. Ou pelo menos do meu mundo. E desde então tudo ganhou novas nuances.
– Mas não dá pra negar que desde aquele dia o seu mundo se tornou mais confuso também. Eu valho tudo isso?
– A minha felicidade vale!
Que lindo!! As vezes os problemas aparecem na hora exata!