Eu poderia, mas você não deixou

armadilha

Ah menina, me divido entre a vontade de te abraçar apertado, te embalar em meus braços e dizer que vai ficar tudo bem e a vontade de te dar uns tapas, te sacudir e mandar parar logo de vez com essa palhaçada toda. Eu poderia ter cuidado de você, menina. Poderia…, mas você não deixou. Você nunca deixa. Toda vez que a felicidade está prestes a bater à sua porta, você dá um jeito de mandá-la para longe, afastá-la de você. Não sei o porquê disso, mas eu realmente queria ter tido a chance de cuidar de você e de deixar que você cuidasse de mim também.

Eu poderia te abraçar quando você sentisse medo, te preparar uma xícara de chá quando sentisse frio ou aquele macarrão com queijo que você tanto adorava quando a fome batesse de madrugada. Eu poderia arrumar a cama embora a gente sempre acabasse adormecendo embolados no sofá, vendo algum programa bobo na frente da TV. Eu poderia te ouvir falar sobre a sua mãe, o seu chefe e a sua incerteza entre fazer o mestrado ou passar um ano viajando pela Ásia.

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Eu poderia dirigir para o outro lado da cidade para te buscar no trabalho pelo simples fato de saber que você  se sente mal andando de metrô. Eu poderia mudar o caminho e parar naquela sorveteria que você adora só pra te pagar um sorvete de pistache numa terça-feira qualquer, porque você fica linda lambuzada de sorvete. Eu poderia te arrastar para um cinema qualquer numa quarta-feira apenas por ter visto no jornal o início de uma mostra de filme europeu que com certeza me faria pensar em você.

Eu poderia ter feito de tudo para te fazer feliz, menina. Mas você não deixou.

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