Não existe sensação pior do que se olhar no espelho e não se reconhecer mais e a verdade, amor, é que faz muito tempo que eu não reconheço mais essas linhas que formam o meu rosto, esses lábios que insistem em estar sempre fechados e que parecem não saber o que é um sorriso espontâneo. De quem são esses olhos que só fazem chorar? Não, não podem ser meus. Quem é essa pessoa do espelho e o que ela faz no meu lugar? Quem é você e o que fez comigo?
Quando foi que eu me transformei nesta garotinha insegura, dependente e frágil que eu vejo através do espelho? Quando foi a última vez que passei um dia inteiro sem chorar por sua causa? Não foi isso que você me prometeu quando entrou na minha vida. Você entrou para somar, lembra? Para tornar meus dias ainda mais felizes, para me fazer rir com as suas piadas, para me encantar um pouco a cada dia com o seu sorriso torto, para me enlouquecer com seus toques… em que lugar tudo isso se perdeu para dar lugar ao medo de perder, à dependência?
Preciso me libertar, amor. Preciso reencontrar quem eu era, porque não sei lidar com essa nova versão de mim que você criou. Desculpa, mas eu nem gosto dela. E não sei se gosto de você também se é ela quem você quer ter ao seu lado. Não quero estar ao lado de alguém por insegurança, dependência e fragilidade. Nada disso é amor. E eu quero amor. Quero amar. Quero aquela menina sempre com um sorriso no rosto e segura de si de volta. É ela que eu sou. É nela que eu me reconheço. É ao ver ela no espelho todo dia de manhã que eu sei que as coisas vão ficar bem, que eu serei capaz de enfrentar o que vier, porque ela é forte. Não sei lidar com toda essa fragilidade que eu vejo agora no lugar, com esses olhos vermelhos de tanto chorar.
Eu preciso me libertar, amor. Mas como se solta as amarras que você criou em meu coração?