Sonhei com você essa noite, moço. Você me dizia que havia algo de bonito na tristeza que via em meus olhos e que se fosse bom com as palavras escreveria sobre a menina com nome de bailarina e olhos tristes. E olha que você nem sabe que os olhos ficaram ainda mais tristes desde aquela noite gelada em que você me deu um beijo na testa e sumiu na escuridão da noite de Praga, sem olhar para trás, me deixando ali com o fica, por favor entalado na garganta.
Eu sei que bastavam aquelas três palavrinhas, ou apenas o fica, mesmo que sussurrado, e eu poderia ter mudado tudo. Poderíamos ter seguido os planos, viajado a Europa inteira apenas com as nossas mochilas nas costas. Passado noites e mais noites sentados na praça ou na entrada do hostel de qualquer cidade conversando, como fizemos em Praga, falando sobre tudo e sobre nada, você me contando sobre a sua vida, eu fugindo de falar do meu passado e do que primeiro tornaram os olhos tristes. Com você, ali eu me permitia esquecer, pelo menos por algumas horas. Nos seus braços eu era apenas mais uma garota sem traumas e apenas com sonhos pela frente, compartilhando da sua alegria e dos seus sonhos tão simples e, por isso mesmo, tão bonitos.
Eu podia ter pedido para você ficar, mas o quanto isso teria sido justo com você? Eu posso ser bem egoísta às vezes, moço, mas eu não podia ser egoísta com você. Não podia assumir a culpa de acabar com os seus sonhos doces, com o seu sorriso fácil. E acredite em mim, em algum momento eu faria isso. Eu sempre faço e com você, moço, eu não suportaria a culpa. Por isso eu fiquei ali, com o fica, por favor entalado na garganta. Por isso eu fechei os olhos para não te ver se afastar cada vez mais de mim. Por isso mesmo Praga terá sempre um quê de saudade e melancolia para mim.