Garçom, aqui nessa mesa de bar você deve ver e ouvir de tudo e não deve aguentar caras como eu que vêm afogar suas dores de amor no álcool. Mas amigo garçom, ela está indo embora hoje, para o outro lado do mundo, e metade de mim está indo junto. E a metade que sobra aqui está tão machucada que não tem lá muita serventia.
Garçom amigo, como ela pôde fazer isso comigo? Partir com tanta facilidade, como se o meu amor não significasse nada?
Garçom, traga outra cerveja e certifique-se de que ainda há muitas para gelar que hoje preciso me embriagar. Não importa qual, amigo garçom, que hoje nada desce redondo mesmo. Tudo parece entalar na garganta, como o pedido para que ela não vá que tenho aqui na ponta da língua. Mas ela vai e vai ganhar o mundo e vai conquistar outros corações e quebrar muitos outros e pisotear neles, como fez com o meu.
Ela não é má, amigo garçom. Alguém tão linda não pode ser má. Ela não faz por mal. É que ela é livre demais, curiosa demais para se prender a alguém. Eu é que nunca deveria ter me apaixonado por ela. Mas me diz, amigo garçom, é possível impedir as estações do ano de se sucederem ou a onda do mar de quebrar na areia? Se você a conhecesse, amigo, não estaria fazendo essa cara. Estaria sentado aqui, se embriagando comigo.
Ela está indo embora hoje, amigo garçom, e metade de mim só quer esquecer.
O coração de um homem é um terreno empedernido e de difícil acesso. É catastrófico quando este terreno sofre um terremoto. Um homem que sofre pode ser um verdadeiro furacão.