Meu amor, se você estiver lendo essa carta é porque a cirurgia deu errado e eu não estou mais neste plano. Se isso aconteceu, eu sei que você deve estar me odiando neste momento por não ter te contado sobre a cirurgia antes e por não ter te dado a chance de estar ao meu lado, de se despedir de mim. Deve estar tentando entender porque eu faria isso com alguém que eu dizia amar tanto. E foi justamente por te amar que eu não quis que você ficasse preocupado comigo. Não quis que você tivesse que ver o medo em meus olhos, o tremor em meus lábios. Não quis que você tivesse que tentar me passar conforto enquanto você também sofreria em silêncio, sem ninguém para te confortar. Eu te amei, eu te amo e, por favor, tente entender que foi por te amar tanto que tomei essa decisão.
E é também por te amar tanto que eu me sinto no direito de te pedir algo: seja feliz! Não hoje, não nesse momento, não com raiva, mas sinta tudo isso, viva a sua dor por algum tempo – o tempo necessário, não o prolongue além da conta – e então volte a olhar para o mundo como um ser curioso, volte a abrir espaço para que o inesperado aconteça, volte a ver cores a sua volta e deixe a felicidade invadir a sua alma e o seu coração novamente. Seja feliz e eu poderei sentir um pouco de paz, onde quer que eu esteja.
Por favor, nunca se sinta culpado por estar vivendo a sua vida, achando que isso é algo errado. Dizem que as pessoas só morrem de verdade quando ninguém mais se lembra delas e eu sei que você vai sempre se lembrar de mim, com cada vez menos dor e espero que com menos raiva também. Não me esqueça completamente e eu continuarei viva. Só não faça da minha lembrança algo que te puxe para trás, algo que te impeça de ser feliz. Entenda que eu não quero isso. Eu nunca desejaria algo assim para você. Eu te amo e é por isso que eu sempre vou querer a sua felicidade.
Espero que seja feliz e que me perdoe um dia.
Com amor,
Ana