Você diz que não aguenta mais, que a carga está pesada demais para você e eu acredito. Acredito porque há meses a tensão anda tão pesada que é possível cortá-la com uma faca se um de nós tentarmos fazer isso. Há anos, talvez, qualquer olhada de rabo de olho pode ser a faísca faltante para desencadear a explosão que poderá não tenha mais volta. E ultimamente não sei mais se quero que tenha ou não volta. Estou cansada. Cansada de não saber se posso ou não falar. Cansada de ter que medir cada uma das palavras ditas. Cansada de ter que viver minha vida quase como se fosse um roteiro em que cada passo é ensaiado, cada palavra pensada durante horas para estar ali. Cadê a espontaneidade? Cadê o beijo simples e despretensioso? Cadê a vontade de estar junto por vontade, por tesão e não por comodismo ou pior, por pena?
Você não aguenta mais e eu respiro aliviada. Internamente peço que dessa vez um de nós tenha a coragem de realmente colocar um fim em tudo isso. De dizer a palavra final. De fazer um favor imenso ao que ainda resta de amor próprio a cada um de nós. Mas então você chora, eu choro e a gente continua empurrando nosso relacionamento com a barriga. Fingindo que nada demais está acontecendo. Evitando falar, evitando qualquer tipo de contato. Vivendo nossas vidas como uma grande peça, exaustivamente ensaiada e automaticamente interpretada. Uma peça que ninguém quer ver.
Nem eu!