Acordo assustada, coração disparado, gosto amargo na boca. Custo a me situar e perceber que estou em meu quarto, na minha cama e não em um trem fedido, no inverno, indo sabe-se lá pra onde. Quase grito ao sentir uma mão na base da minha coluna, mas ao virar me deparo com o azul profundo dos seus olhos cheio de sono e preocupação. Tá tudo bem?, você pergunta. E agora está. Me aninho em seu peito e aos poucos minha respiração parece um eco das batidas do seu coração, tudo em um único ritmo. Dois formando um.
De repente volto a sentir medo, mas dessa vez não tem nada a ver com o pesadelo que me acordara. Tenho medo dos sentimentos que crescem dentro de mim com uma rapidez que nunca houve igual. Me encolho diante da ideia de mergulhar de cabeça e não conseguir mais voltar à superfície para respirar. E se você for embora e eu ficar como uma garotinha sem boia em alto-mar? Já te contei que não sei nadar?
Mas então suas mãos me puxam pra cima, azul profundo encarando o marrom e, como a onda do mar, levando qualquer medo pra bem longe.
Se a boca não fala, os olhos se encarregam de passar a mensagem.