Sabe, nunca achei que chegaríamos a esse ponto. Talvez estivesse mais preparada se tivesse prestado mais atenção às aulas de literatura e aos inúmeros poetas entoando versos e mais versos sobre o fim do amor. E aqui estamos nós, empacotando nosso amor junto com as coisas que você vai levar para algum canto cujo endereço não me deu. Será que a dor que acompanha qualquer fim de um amor cabe nessa caixa que você está quase fechando? É que eu não quero ficar com ela e todas as lembranças que ela vai insistir em jogar na minha cara depois que você sair por aquela porta.
Desvio o olhar pra estante da sala e o Neruda implora para que eu não te deixe levá-lo. É que ele sabe tão bem quanto eu que você vai jogá-lo em um canto qualquer e deixá-lo ao sabor da poeira, como fez com as plantas que compramos e com o meu coração.
Olho as caixas ao redor e queria te dizer tanta coisa. Queria te implorar pra ficar, pra tentar mais um pouco. Podíamos aproveitar a faxina e tentar descobrir onde foi que aquele amor de outrora, aquele desejo que não nos deixava tirar as mãos e os olhos um do outro se escondeu. Mas sei que qualquer coisa que eu diga vai ser em vão. Além do mais, amores requentados sempre deixam um gosto amargo no final.
Não, não estou chorando. É a rinite. Você sabe que não posso com poeira. Me aproximo da estante e escondo o Neruda atrás dos meus livros de fotografia. Aproveito para tampar aquela velha foto em Nova York. O sorriso era tão verdadeiro ali. A felicidade também.
Um dia, se você sentir falta, eu te devolvo o Neruda. Em troca você devolve a minha felicidade?
MARCA EM https://oeuinsolito.wordpress.com/2015/08/02/tag-complete-a-frase-2/DA