Quanto tempo faz desde que eu fui embora? Um ano, dois? Uma semana? É que parece que nem o tempo quer me deixar me afastar de você e te traz em sonho toda noite. Lembra que você costumava dizer que podia passar horas me vendo dormir? E que adorava me desenhar enquanto eu me perdia em sonhos? Sinto saudades dessa época. Desde que fui embora nunca mais dormi uma noite inteira.
Entre palavras não ditas e o tempo que parece ter congelado desde que eu saí por aquela porta, acordo sempre no mesmo ponto do sonho: você está parado diante de mim com um sorriso radiante no rosto, como naquela última noite, e eu me jogo em seus braços, gritando para todos os vizinhos ouvirem o quanto eu te amo e então digo o sim que você tanto esperava ouvir de minha boca e que o medo não me deixou dizer. Acordo com o coração acelerado, ligo a TV, me sirvo de qualquer bebida forte, mas nada é capaz de afastar a sensação de solidão, nada tira o peso dos ombros que carrego desde aquele dia. Evito o espelho porque são seus olhos tristes que vejo e não os meus vazios. É culpa, eu sei.
Tento contar outra história para meus novos colegas, deixei o cabelo crescer, passei a usar batom vermelho e a abusar da maquiagem, mas o tempo não me deixa esquecer. Quando chega a noite eu sei que por mais que eu tente, não adianta as mentiras contadas, você vai estar ali, em meus sonhos, e neles não adianta o que eu inventei para aplacar a culpa. Penso em te ligar, mas palavras não bastam. Nosso tempo passou e a culpa foi minha.
Um dia você vai seguir em frente e eu não vou passar de uma história do passado. E eu vou continuar esperando as noites mal dormidas.