Casa comigo? Você disse no último minuto. Sem preparação, sem anel, sem discurso ensaiado, sem nada além do seu sentimento. E eu quase aceitei, menino. Provavelmente nunca receberei outro pedido tão genuíno quanto aquele ali, no saguão de Congonhas, cheio de pessoas apressadas indo e vindo. Mas a vida não é um filme e o casamento não vai resolver todos os nossos problemas como em um passe de mágica. Quem dera resolvesse. Quem dera eu ainda acreditasse em mágica. Mas a essa altura da vida já deixei de acreditar há muito tempo.
A decepção nos seus olhos me acompanhou por todo o voo. Virar as costas e entrar no avião só não foi mais difícil do que dizer não para você. Mas quando a raiva e a tristeza passarem você vai entender. Pelo menos eu espero. Íamos viver de quê? Por mais que achemos que dá para viver de amor, amor não paga as contas. Sem falar na maldita distância, o que faríamos com ela? Você abriria mão dos seus sonhos e se mudaria para cá, deixando tudo para trás? Quanto tempo até você começar a jogar o peso dessa decisão sobre os meus ombros? Ou você esperava que eu fosse te acompanhar sem olhar para trás e mudar toda a minha vida? Eu sei que o amor deveria ser suficiente para que todas essas decisões fossem tomadas em um piscar de olhos, sem qualquer tipo de pensamento racional. Mas lembra, menino? Você sempre agradeceu meu lado racional que te fazia voltar para a Terra quando os sonhos te puxavam para longe demais. Essa sou eu, e desculpa se eu não sei ser diferente.
Casa comigo foi seu pedido desesperado, uma tentativa de salvar um resquício que resta do que fomos um dia. E por mais que eu queira você, eu não quero um pedido desesperado. Não quero algo não-pensado apenas como uma boia salva-vidas lançada ao mar em um momento de desespero, de ressaca emocional. Posso lidar com seu olhar decepcionado me acompanhando, mas não quero ter que lidar com a culpa ou a raiva nos corroendo.