
Ali, com aquele desconhecido ela se sentia, pela primeira vez em sua vida, conectada com algo. Alguém que a entendia, alguém que se fazia os mesmos questionamentos, alguém que, como ela, queria viver intensamente, mas era racional demais para isso.
Isso faz algum sentido? Não, aparentemente não, mas a vida como um todo, faz? Ali, com aquele estranho a encarando com olhos atentos, parecendo enxergar sua alma, ela se permitiu se mostrar realmente. Mostrar a verdadeira mulher por trás da pele clara, dos olhos sempre atentos ao redor, do cabelo levemente bagunçado. Aquela que ela escondia dentro de si e que poucos tinham o privilégio de realmente conhecer.

Sem entender porque, não temia ser julgada por ele. Ela sentia um impulso que a compelia a falar cada vez mais. Sobre o que? Sobre a vida, os amores, as perdas, as ilusões perdidas, os medos… ah, e como sentia medo, embora pouco os confessasse.
Depois de um café, e de horas, que passaram como minutos, de uma conversa cheia de confissões e de auto-descobertas, se despediram, seguindo cada um para um lado da cidade, sem trocarem telefone, nada. A cidade caótica e a chuva que caía do lado de fora apenas conspirou para que dois estranhos compartilhassem um momento único em um dos muitos cafés existentes na Consolação. Momento que, com certeza, ficaria guardado para sempre na memória de ambos.