Eu não esperava voltar a te ver um dia e, ainda assim, ali estava você, parado no sinal, no carro ao lado do meu. E ali estava meu coração falhando uma batida tantos anos depois. Tenho que confessar, por mais clichê que seja, que minhas lembranças não faziam jus à sua beleza.
Pensei em buzinar, em fechar seu carro, a rua inteira, fazer um espetáculo em plena avenida. Mas vamos ser sinceros? Ia dizer o quê? Por isso fiquei ali, apenas olhando. E no fundo, com medo, mas torcendo para que você sentisse a minha presença como costumava sentir, e me olhasse de volta. Mas você apenas arrancou e, logo depois, o carro de trás buzinou, me tirando do meu transe.
Mais uma vez você foi embora, sem um único arranhão, enquanto eu fico aqui, com as lembranças, as dores, os pedaços a serem colados novamente. Volto a me sentir como aquela menina de dezessete anos, cujos sonhos você tão facilmente despedaçou. E como se eu não tivesse aprendido nada com ela, passo o dia me perguntando: e se eu tivesse buzinado, você teria sentido algo também?