Você dorme e eu te encaro. A mão alisando suavemente a mecha de cabelo que insiste em cair na sua testa. Você sorri em meio ao sono e eu sorrio junto. Tão sereno. Tão diferente de mim. Nem sinal de compartilhar o turbilhão de sentimentos que me impede de dormir.
Há dias a pergunta está na ponta da língua. Sinto ela ameaçar escapar durante nossos cafés, durante a comédia romântica da terça, o sexo da quinta de manhã antes daquela reunião de negócios. Mas na última hora, sempre acabo engolindo ela de volta.
Penso em te acordar e acabar logo com isso.
— Vamo comigo?
Não é tão difícil. São só duas palavras. Deveria ser fácil…
O que você faria se eu pedisse? Largaria tudo sem pensar duas vezes? Soltaria um suspiro de alívio, me agradecendo por finalmente ter pedido? Me daria alguma desculpa, diria que não e não conseguiríamos mais ser os mesmos nos meses que faltam? Afastaria seu olhar do meu e deixaria o silêncio ser um som ensurdecedor dentro do quarto?
— Ei, que foi? Tá acordada me olhando com essa carinha por quê?
É agora. Só duas palavrinhas.
Foco meu olhar de volta em você. Abro meu melhor sorriso e antes de me aconchegar em seus braços respondo:
— Nada não!