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O beijo

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– Sério mesmo que você queria me beijar desde a copa do mundo?

– Hum Hum

– Mas a copa foi há quase dois anos.

– Você estava mesmo preparada para eu te beijar naquela época?

-Não, mas…

-Então, não ia correr o risco de estragar tudo. Não com você.

-Desculpa ser tão complicada.

-E quem não é?

-Sei lá, a fulaninha lá não parece.

-Você e essa mania de se comparar com os outros. Os outros não me interessam, estamos falando de você.

-Você parece minha mãe que me dizia que eu não era todo mundo, quando eu era criança.

-Sabe qual é o seu problema?

-Hum?

-Você pensa demais. Deixa eles pra lá. Segue em frente garota. Foi por isso que eu esperei dois anos, pra dar tempo de você seguir em frente, virar a página, se permitir renascer das cinzas, mas você parece querer continuar presa ao passado, parece ter medo de começar a viver de novo. Só você pode recomeçar sua vida. Olha só a lista interminável de desculpas que você usou para adiar nosso encontro, alguém realmente tem alguma coisa a ver com a gente além de nós dois? Pare de pensar e se jogue. Vive o presente. Se permite experimentar a vida e voltar a gostar dela. Viver pode ser viciante, sabia? E eu também!

– Uau. Desculpa, eu não sabia que…

– Não precisa pedir desculpas. Eu só não aguento mais ver você sofrendo por algo que não faz mais o menor sentido.

-Ei.

-Que foi?

-E então, toda a espera valeu a pena?

-Sabe que eu não sei. Acho que preciso de mais um beijo pra ter certeza.

-Desde que não demore outros dois anos.

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Uma questão de sorte

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– Lembra de quando a gente se conheceu?

– Claro que lembro. Você me usou de fonte para aquela matéria maluca e eu soube que estava perdido no momento em que você entrou naquele estúdio.

– Eu te achei tão convencido… mas ainda assim as coincidências me fizeram aceitar a carona e o chope depois da entrevista.

– Lembra do que eu te disse mais tarde naquele dia, enquanto nos recuperávamos na minha cama?

– Que você não queria compromissos.

– E ainda assim fui me comprometendo cada vez mais com você, sem nem me dar conta do quanto estava envolvido.

– E um belo dia deixou de se comprometer, de se envolver… Quando foi que nos tornamos aquele casal que sempre detestamos tanto, que só sabe cobrar e criticar o outro?

– Não sei, mas deve ter sido na mesma época em que começamos a focar de mais no trabalho e de menos um no outro.

– Quando você começou a focar de mais no trabalho, você quer dizer, né?

– A culpa nunca foi só minha.

– Quem está falando em culpa? Mas você vai negar que seu trabalho sempre veio em primeiro lugar? Que você nunca tinha tempo pra viajar, pra fazer planos… Isso é o que mais dói, sabia? Com ela você parece ter todo o tempo que nunca teve comigo.

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– A gente aprende com os erros cometidos.

– Você tá me chamando de erro?

– Claro que não. Você foi o meu maior acerto, isso sim. Estou falando da falta de tempo, da falta de planos… de não ter me dado conta que você estava me escapando pouco a pouco, como areia por entre os dedos. Posso fazer uma última pergunta?

– Claro.

– Você se arrepende dos últimos nove anos?

– De verdade? Nunca. Você me fez sofrer muito, me fez chorar mais do que eu acharia humanamente possível, me machucou mais do que pode imaginar. Mas também me fez amar como nunca tinha amado antes, me fez rir em mais momentos do que sou capaz de contabilizar, me fez acreditar, me deu motivos para sonhar e para lutar pelos meus sonhos, me ensinou a lutar por aquilo que eu quero e desejo para a minha vida. Não deu certo, mas você foi o amor da minha vida pelos últimos nove anos e vai sempre fazer parte da minha história, mesmo que agora eu queira trancar essa história em uma caixinha qualquer e esconder a chave, para evitar a tentação de revisitá-la de tempos em tempos. Não me entenda mal, mas é que ainda dói. Mas não se preocupe, vai passar, um dia eu vou ser capaz de abrir a caixinha e apenas sorrir, tomada pelas boas lembranças do que vivemos juntos.

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– Obrigado.

– Pelo quê?

– Por todo o amor que você me deu.

– Não é algo pelo qual tenhamos controle.

– Eu sei, mas ainda assim você foi muito mais do que eu poderia esperar. Você me ensinou a amar de novo e isso não é pouca coisa.

– Pena que não foi suficiente…

– Você vai encontrar alguém melhor do que eu.

– Não tenho dúvidas disso. Pena que você não vai ter a mesma sorte!

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Pra que fingir?

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– Você vai na festa da Iza e do Rô amanhã?

– Ainda não sei.

– Por quê?

– Sei lá, pode ficar um clima estranho. Você não acha?

– Não.

– Além do mais, não sou mais da família.

– Não vai ter só família. Além do mais, tenho a impressão de que pra minha família você é mais família do que eu.

– Não sei, vou pensar.

– Eu acho que você deveria ir. Não vai ser a mesma coisa se você não estiver lá.

– Que merda, Beto. Para com esse joguinho, cacete. Eu juro que tento, mas eu simplesmente não consigo entender o que você ainda quer de mim. Porque fica fazendo esse jogo, mandando esses sinais em vez de me deixar ir de uma vez. Foi você quem decidiu que não me queria mais. Foi você quem deixou muito claro que eu estava atrapalhando a sua carreira brilhante.

– Você nunca vai me perdoar por ter dito isso, né?

– Quem sabe se você nascer de novo, me procurar, rastejar e… não, nunca!

– Tudo bem, um dia eu vou te vencer pelo cansaço.

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– Não, não vai. Eu sei que a gente vai ser obrigado a conviver pro resto da vida, mas você não precisa fingir estar feliz com isso.

– Mas não é fingimento.

– Como eu estava dizendo, vamos apenas agir como duas pessoas educadas. Um oi como vai? ao chegar e pode sair à francesa e pular as despedidas.

– Não precisa ser assim.

– Precisa. Você decidiu assim. Não vem dar uma de garoto arrependido agora. Você escolheu isso ao partir o meu coração em tantos cacos que eu estou tentando juntar todos os pedaços até hoje.

– Eu errei, tá legal? Me arrependi no instante em que você saiu pela porta e eu soube que daquela vez tinha sido pra valer, que você não ia voltar nunca mais e que com você a melhor parte de mim tinha ido embora também. Me arrependo sim e vou lutar até o fim pra que você entenda que eu posso ter perdido o seu amor, mas que eu me contento com qualquer migalha que eu possa ter, mesmo que seja saber que você vai estar na mesma festa que eu.

– Diz a pessoa que já colocou outra no meu lugar.

– Ela nunca vai ser você.

– Você é tão babaca…

– E então, você vai na festa da Iza e do Rô amanhã?

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Passa o ano novo comigo

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– Passa o ano novo comigo?

– Desculpa, mas já combinei de passar com as minhas amigas, andando pelas imediações da Paulista, de pub em pub.

– Não tô falando exatamente do dia 31.

– Então do quê?

– Do novo ano, dos 365 dias novos que temos pela frente. E se der, os outros 365 dias depois desses, e os outros 365…

– Mas a gente mal se conhece.

– Mais um motivo. Passa o ano novo comigo, deixa eu te mostrar o que eu soube desde o nosso primeiro beijo.

– E o que foi?

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– Que é você. Que é pra você que eu quero voltar todos os dias. Que é você que eu quero tentar fazer feliz dia após dia. Que é você que me causa aquele arrepio bom e que me faz fazer planos, sonhar com uma casa, duas crianças e um labrador. Que é a sua imagem que o meu cérebro busca a cada minuto e que faz o meu coração disparar no peito e um sorriso involuntário se formar no meu rosto. Que é pra você que eu quero ser uma pessoa melhor em 2015, 2016, 2017…

– Nossa.

– Que foi?

– Eu… eu só não sei o que dizer.

– É simples, passa o ano novo comigo?

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Eu nunca vou me cansar de você

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― Você ainda chegaria em mim hoje, se me visse sozinha tomando o meu drink em um bar qualquer?

― Claro que sim. Por que isso?

― Não sei. É que às vezes tenho a impressão de que já nos acomodamos e que sou como aquele velho livro que você conhece a história de cor e deixa na estante apenas por enfeite ou afeição, mas no fundo já se cansou da história.

― Eu nunca vou me cansar.

― Da história?

― Só se for da nossa história. Eu nunca vou me cansar de você, menina boba.

― Como você pode estar tão certo disso?

― Porque ninguém nunca me olhou com tanto cuidado, com tanta atenção a ponto de perceber que o meu olho esquerdo às vezes assume um reflexo violeta, dependendo da luz. Ou quis tanto entender o meu trabalho e a minha visão sobre Godard; a maioria das pessoas perguntava apenas por educação, mas você não, eu podia ver o interesse genuíno nos seus olhos. Ou quis tanto fazer um jantar indiano para mim.

― Nem me lembra daquele jantar. Não sei como você não desistiu de mim, ali.

― Pensando bem, nem foi tão desastroso assim.

― Não, foi pior.

― Tá, a comida pode não ter ficado boa, mas de novo, ninguém nunca se esforçou tanto para fazer algo por mim, pelo simples fato de querer me ver feliz, como você fez naquela noite. E embora cozinhar não tenha se mostrado o seu forte, a forma como você se mostrava tão dona de si na minha cozinha, tão bem adaptada ao meu espaço fez aquela noite valer a pena. Sem falar no lindo rubor que tomou conta da sua bochecha quando eu sugeri que você não partisse naquela noite.

― Eu estava tão envergonhada por ter falhado no jantar e você ali, sendo todo fofo comigo.

― Acho que eu me dei conta que te amava naquela noite, enquanto te via dormindo ao meu lado, o rosto tão sereno, ressonando baixinho e então você se virou, enganchando o seu braço no meu e logo vi que eu poderia dormir daquela forma todas as noites pelo restante da minha vida.

― Por que você nunca me contou isso?

― Não sei, acho que nunca houve uma oportunidade para trazer o assunto a tona.

― Hum.

― Sabe por que mais eu sei que nunca vou me cansar de você?

― Por que?

― Porque já tentei pensar a minha vida sem você e ela se torna tão sem graça, tão previsível. Não é que eu dependa de você ou não viva sem você, não é isso, mas quando alguma coisa boa acontece comigo a primeira necessidade que sinto é de compartilhar a alegria com você. Eu quero te contar as coisas, ver se a sua cara ou a sua reação vai ser a que eu imaginei e eu quero ouvir o que você tem pra me contar também. Podemos até ter caído numa espécie de rotina, mas você não é uma história repetida que eu sei de cor, muito pelo contrário, com você um dia nunca é igual ao outro.

― Droga!

― Que foi?

― Olha lá você sendo todo fofo de novo.

― Só com você.

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O borrão mais perfeito do mundo

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– Você sabe que eu nunca teria pulado, não sabe?

– De paraquedas comigo? Claro que sei.

– Também, mas não é desse salto que eu estou falando.

– Por que falar disso agora?

– Não sei. Às vezes me pergunto se você não está comigo apenas por pena do pobre menino depressivo com tendências suicidas, como diz aquela senhorinha de óculos do 202.

– Sério? E eu que achava que quem tinha problemas de vista era eu.

– Não é isso. É só que… ah deixa pra lá.

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– Espera, só pra você saber, eu nunca te vi como um pobre menino depressivo com tendências suicidas. Nem mesmo enquanto você estava no alto daquela ponte, decidindo se pulava ou não.

– Não?

– Não. Você sabe que eu não sou do tipo que paro para ver essas coisas mórbidas que todo mundo adora, mas algo na sua situação me chamou a atenção logo de cara. Sei lá, você parecia tão pequeno naquela ponte imensa, tão carente de um abraço ou de alguém que te estendesse a mão e te mostrasse que podia haver outros rumos. E depois, quando você caiu em cima de mim e quebrou os meus óculos, eu simplesmente esqueci de tudo, porque você imediatamente se tornou o borrão mais perfeito do mundo. Ou pelo menos do meu mundo. E desde então tudo ganhou novas nuances.

– Mas não dá pra negar que desde aquele dia o seu mundo se tornou mais confuso também. Eu valho tudo isso?

– A minha felicidade vale!

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Conversas ao telefone

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– Ei, que vozinha é essa?

– Não tô sabendo lidar com toda essa saudade que estou sentindo de você.

– Um mês passa rápido, você vai ver.

– Sério? Sério mesmo que você disse isso?

– Só estou tentando fazer você se sentir melhor e ver se se eu repetir isso como um mantra se eu consigo ficar bem. Você não é a única com saudades aqui.

– Por que mesmo eu fui me apaixonar por alguém que mora há 450 km de distância?

– E agora a culpa é minha?

– Não é questão de culpa. É só que eu não sei como fazer isso dar certo e tá cada dia mais difícil.

– Eu sei.

– Eu realmente quero que a gente dê certo, mas eu não sei como fazer isso.

– Muda pra cá.

– Claro, porque é simples assim.

– Pode ser, se você quiser.

– Não, você sabe que não pode. Eu não posso abrir mão da minha vida assim, de uma hora pra outra.

– E eu que achava que era a sua vida agora.

– Parte dela sim, mas por mais que eu gostaria que fosse assim, minha vida não se resume apenas ao amor. Eu não posso viver de amor.

– Eu sei. Só estava tentando ajudar. Não gosto de saber que você está triste.

– Não estou triste, apenas com saudades.

– E não dá na mesma?

– Na verdade não. Se quer saber, nunca estive tão feliz. Só não sei o que fazer com essa saudade que me faz querer ser irracional e largar tudo só para estar ao seu lado.

– Eu também nunca estive tão feliz.

– Jura?

– Juro.

– E o que a gente faz com a saudade?

– Deixa ela por aí, porque por mais que doa, do jeito dela ela vai alimentando o nosso amor. Ela pode parecer aquela convidada intrometida, mas do jeito dela, ela só quer o nosso bem. E daqui um mês a gente se livra dela.

– Promete?

– Prometo. Enquanto isso, vai alimentando ela daí, que eu alimento ela daqui e através dela a gente constrói uma ponte, uma ponte em que 450 km são percorridos num piscar de olhos e que só a gente pode percorrer… Ei, que barulho é esse?

– Tô tirando aquele álbum do último Carnaval da gaveta, pra matar um pouco da fome da minha saudade agora mesmo…

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O Fim

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― Por favor, não chora.

― Não se preocupe, eu não vou fazer uma cena, gritar para todos os vizinhos ouvirem.

― Não é isso. É só que eu nunca soube lidar com o seu choro. Ele dói aqui dentro de tal maneira que quando vejo quero unir o meu choro ao seu.

― Você é estranho.

― Estranho ou não, eu me importo com você.

― Você se importa?

― Claro que sim. E quer saber? Sempre vou me importar.

― Mas…

― Não tem mas nenhum. Não é porque não deu certo que vou deixar de me importar, que vou girar uma chave qualquer dentro de mim e deixar de te amar. A gente só não quer mais as mesmas coisas.

― Nunca entendi esse negócio direito.

― Que negócio?

― De não estar mais na mesma página que o outro. Quando foi que você passou a virar as páginas mais rápido? Ou foi a minha miopia que foi me fazendo ficar cada vez mais para trás?

― Não sei, mas sei que achei linda essa sua forma de apertar os olhos para tentar enxergar melhor. Fica sexy. Na verdade, foi a primeira coisa que reparei em você, parada no meio da Paulista, parecendo perdida, os olhos apertados tentando ler a placa do outro lado da rua.

― Como eu disse… estranho!

― E você, não vai dizer a primeira coisa que te chamou a atenção em mim?

― O jeito de menino despojado com os óculos quadrados e a barba por fazer contrastando com a camisa da Hollister. Aliás, posso ficar com ela?

― Eu achava que você detestava aquela camisa.

― Detesto, mas é pra eu ter algo com o seu cheiro, pra quando a saudade apertar.

― Você sempre pode vir aqui sentir o cheiro pessoalmente.

― Não acho que nossos futuros companheiros vão gostar dessa ideia.

― É, não tinha me dado conta de que você provavelmente não vai ficar sozinha por muito tempo.

― De nós dois, não sou eu quem não sabe lidar com a solidão.

―É, talvez você tenha razão.

― Nove anos de relacionamento e você ainda não aprendeu que eu sempre tenho razão?

― Sempre tão convencida.

― Então… acab…

― Não fala.

― Por quê?

― Porque quando você pronunciar essas palavras e sair por aquela porta tudo isso vai se tornar real.

― Eu não entendo, foi você mesmo quem disse que seria o melhor pra gente.

― Eu sei, mas nem por isso a dor é menor.

― Vem cá. Deita aqui no meu colo. Deixa eu te fazer um cafuné como quando você chegava cansado do trabalho.

― Eu vou sentir falta disso.

― Ei não é justo, não chora…

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