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Carta pra dizer, tarde demais, o quanto te amei

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Eu falhei. Falhei tão feio com você, meu amor. E agora, o que mais dói é me dar conta do quanto eu te decepcionei e o pior, não há nada mais que eu possa fazer para mudar isso. É tarde demais.

Ah se eu pudesse fazer o tempo voltar atrás… eu te diria todos os dias o quanto eu te amava. Eu diria o quanto você era a vida da nossa casa, o norte que orientava a minha bússola interna. Eu teria segurado sua mão no final e garantido que ficaria tudo bem. Não sei bem se seria uma frase de consolo mais pra mim ou pra você, mas eu teria feito mesmo assim. Eu teria beijado sua boca uma última vez para tentar manter o seu gosto em meus lábios por mais tempo e teria, por fim, repetido exaustivamente o quanto eu te amava.

Mas eu falhei. Eu cheguei tarde demais e agora não me resta nada além do seu corpo inerte, já sem vida à minha frente. E uma dor que nunca senti igual. Deve ser o peso da culpa em meu coração, eu sei.

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Lembro do dia em que recebemos a notícia da sua doença. Dessa doença maldita que foi te levando de mim um pouco a cada dia. Você foi tão corajosa e eu não soube enxergar que, no fundo, aquilo não passava de uma máscara que você estava usando para não me preocupar, para que eu não visse o seu medo. Você não queria que eu parasse a minha vida para eu ter como continuar depois e eu fui tão insensível, deixei meu próprio pavor de te perder ir me afastando de você antes da hora, ir te tornando invisível para mim. Logo você que sempre brilhou para mim como um farol em alto-mar. Ao fugir do seu sofrimento te fiz sofrer em dobro e sofro mil vezes mais agora, como castigo.

Eu só queria uma chance para fazer tudo diferente e acredite, eu faria. Eu faria tudo para aliviar a sua dor. Eu faria tudo para que cada um dos seus dias fosse especial, fosse marcante, para que se fosse o último, ele tivesse valido a pena e eu pudesse ter visto o seu sorriso uma última vez. Mas eu ainda não tenho esse poder e, por isso, vou me culpar pelo resto do tempo que me resta.

Eu só queria ter despertado a tempo de te dizer o quanto eu te amava, do jeitinho que você merecia ter sido amada. Pena que agora é tarde demais.

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Carta para o meu super-homem

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Eu sei que você está partindo e isso me mata um pouco junto a cada dia. Não estou preparado para perder você. Sei que é a ordem natural das coisas, que a vida é assim, mas eu não aceito. Eu não quero aceitar. Me sinto de novo como a criança que fui há tanto tempo e que se sentia perdido quando você não estava ao alcance dos meus olhos. Mas logo você surgia de novo e meu coração entrava no compasso certo novamente. Como vai ser? Meu coração agora vai ficar descompassado para sempre?

Fico te observando quando você não está olhando e me pergunto se você sabe o quanto eu te amo, o quanto você sempre foi uma espécie de herói para mim. Você sabe? Cada passo que dei foi tentando me aproximar um pouco do homem que você é. Cada ação minha como pai foi tentando ser para os meus filhos o que você é para mim. Mais do que um pai, um amigo, um ombro sempre pronto para aparar minhas lágrimas, um abraço sempre acolhedor… O simples fato de saber que eu poderia contar com você já me bastava. E agora? Quem vou buscar quando estiver prestes a entrar em desespero? Quem eu irei procurar quando estiver precisando de alguém que me mande parar e deixar de drama? Como vou viver sem o seu riso contagiante e o seu olhar doce? Que norte passarei a buscar?

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Sei que nem sempre fui o filho que você mereceu ter. E que nem sempre demonstrei a importância de te ter junto a mim. Sinto muito pelas preocupações e pelas dores causadas. E espero que nunca tenha acreditado quando reclamei de você e disse que te odiava. Eu sempre me arrependia no instante em que as palavras deixavam a minha boca e eu via em seus olhos o quanto aquilo havia te atingido. Se servir de consolo, sei que vou passar pelas mesmas coisas quando as crianças chegarem na adolescência e vou sofrer em dobro ao sentir na pele a dor que causei a você.

Queria ter o poder de acabar com a sua dor e de te manter aqui pra sempre, mas o super herói da casa sempre foi você. Meu super homem com a cueca por baixo da calça. Uma vez me disseram que a pessoa nunca morre enquanto viver no coração de alguém. Você vai estar sempre no meu coração, pai, mesmo ele faltando um pedaço e batendo descompassado.

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Lembranças

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Estou cansada, apesar de passar o dia todo deitada, e nos últimos tempos as coisas parecem um pouco confusas. Têm dias em que acordo em um ambiente que não reconheço e cada vez mais pessoas estranhas vêm me ver, falam comigo como se eu fosse alguma espécie de idiota – de forma pausada e gritando como se eu fosse surda – e vão embora chorando. No início, achei que me confundissem com alguém, mas não tenho certeza. Uma mocinha de cabelos vermelhos acabou de sair daqui. Ela passou duas horas me contando histórias sobre a sua infância, com um olhar repleto de esperança, como se esperasse que eu me lembrasse de algo. Mas do quê? Eu nunca a vi antes, como poderia saber algo sobre a sua infância? Ela é simpática, bonita até, e os cabelos vermelhos e os olhos azuis de alguma forma me lembraram você. É por isso que eu não me importei e deixei que ela ficasse e falasse, já que você nunca aparece.

Outro dia perguntei sobre você para uma das moças que veio me dar remédio, mas ela apenas sorriu, como você costumava fazer quando não tinha a menor ideia sobre o que eu estava falando, e saiu, voltando para os seus afazeres. Eu sempre odiei aquele sorriso. Mas apenas aquele, pois o sorriso torto que você me deu na primeira vez em que nos vimos sempre foi o meu sorriso favorito no mundo todo. Algo ali me dizia que eu não devia me apaixonar por você e, ainda assim, era um convite irrecusável ao amor. Nunca fui muito boa em dizer não para o que quer que seja, imagine se eu seria capaz de recusar justo um amor como aquele que o seu sorriso torto me oferecia?  E eu não me enganei. Você podia ser insuportável quando queria, mas do nada abria seu sorriso e eu me derretia. Não pelo sorriso torto em si, mas pela ternura que ele levava aos seus olhos. Um estava sempre acompanhado do outro, e da covinha nas bochechas.

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Tenho a sensação de que dormi por dias, mas podem ter sido apenas minutos. A menina de cabelo vermelho esteve aqui e trouxe um álbum de fotos dessa vez. Havia algumas fotos de um casamento e fiquei me lembrando do nosso, você estava tão charmoso naquele fraque escuro, parecendo tão confiante, tão seguro de si, enquanto eu estava tão nervosa que quase não consigo me lembrar de nada. Mas lembro do sorriso que você abriu quando meu viu pela primeira vez vestida de noiva; ele era torto. E a ternura estava presente nos olhos. E havia covinhas também.

As pessoas entram e saem cada vez mais apressadas daqui, seja lá onde for este lugar. As visitas da menina de cabelo vermelho duram cada vez menos, pois ela não consegue controlar seu choro. Coitada, deve estar passando por algum problema. Vai ver ela conheceu algum rapaz de sorriso torto. Sonhei que você dizia que viria me visitar esta noite, enquanto eu estivesse dormindo. Mal posso esperar. Acho que vou dormir agora…

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