Tudo parece queimar. O telefone em minha mão, o ar preso nos pulmões, as palavras presas na garganta. Tenho tanto pra te falar, tanto pelo o que pedir perdão. Não sei bem se pra você ou pra mim mesma, mas a verdade é que desde que você foi embora me sinto sufocada pelas palavras não ditas. O fim deveria ter colocado um ponto final na angústia, mas não colocou. As coisas só mudaram de perspectiva, talvez. Queria tanto te dizer tudo o que devia ter dito há dois anos atrás. Será que tudo poderia ter sido diferente?
Olho para o telefone como se ele pudesse me dar uma resposta, quando sei que nem você mesmo pode me dar o que procuro. Busco um eu que não existe mais. Um nós que, mesmo que ficássemos juntos hoje de novo, não seríamos mais eu e você. Busco um passado ao qual me agarro por medo de encarar que falhei com você. Falhei com nossos sonhos. Falhei com quem eu era quando estava ao seu lado.
Soube que você seguiu em frente e que nada disso parece mais fazer diferença para você. Nem o fato de eu ter te feito chorar ou partido seu coração. Você superou e eu estanquei. Você superou e eu parei diante da bifurcação entre o passado e o presente. Como naquela manhã, você seguiu sem olhar pra trás e eu continuo encarando o caminho esperando por algo que não sei o que.