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Eu continuo aqui

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Tudo parece queimar. O telefone em minha mão, o ar preso nos pulmões, as palavras presas na garganta. Tenho tanto pra te falar, tanto pelo o que pedir perdão. Não sei bem se pra você ou pra mim mesma, mas a verdade é que desde que você foi embora me sinto sufocada pelas palavras não ditas. O fim deveria ter colocado um ponto final na angústia, mas não colocou. As coisas só mudaram de perspectiva, talvez. Queria tanto te dizer tudo o que devia ter dito há dois anos atrás. Será que tudo poderia ter sido diferente?

Olho para o telefone como se ele pudesse me dar uma resposta, quando sei que nem você mesmo pode me dar o que procuro. Busco um eu que não existe mais. Um nós que, mesmo que ficássemos juntos hoje de novo, não seríamos mais eu e você. Busco um passado ao qual me agarro por medo de encarar que falhei com você. Falhei com nossos sonhos. Falhei com quem eu era quando estava ao seu lado.

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Soube que você seguiu em frente e que nada disso parece mais fazer diferença para você. Nem o fato de eu ter te feito chorar ou partido seu coração. Você superou e eu estanquei. Você superou e eu parei diante da bifurcação entre o passado e o presente. Como naquela manhã, você seguiu sem olhar pra trás e eu continuo encarando o caminho esperando por algo que não sei o que.

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Eu fico com o Neruda que você não leu

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Sabe, nunca achei que chegaríamos a esse ponto. Talvez estivesse mais preparada se tivesse prestado mais atenção às aulas de literatura e aos inúmeros poetas entoando versos e mais versos sobre o fim do amor. E aqui estamos nós, empacotando nosso amor junto com as coisas que você vai levar para algum canto cujo endereço não me deu. Será que a dor que acompanha qualquer fim de um amor cabe nessa caixa que você está quase fechando? É que eu não quero ficar com ela e todas as lembranças que ela vai insistir em jogar na minha cara depois que você sair por aquela porta.

Desvio o olhar pra estante da sala e o Neruda implora para que eu não te deixe levá-lo. É que ele sabe tão bem quanto eu que você vai jogá-lo em um canto qualquer e deixá-lo ao sabor da poeira, como fez com as plantas que compramos e com o meu coração.

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Olho as caixas ao redor e queria te dizer tanta coisa. Queria te implorar pra ficar, pra tentar mais um pouco. Podíamos aproveitar a faxina e tentar descobrir onde foi que aquele amor de outrora, aquele desejo que não nos deixava tirar as mãos e os olhos um do outro se escondeu. Mas sei que qualquer coisa que eu diga vai ser em vão. Além do mais, amores requentados sempre deixam um gosto amargo no final.

Não, não estou chorando. É a rinite. Você sabe que não posso com poeira. Me aproximo da estante e escondo o Neruda atrás dos meus livros de fotografia. Aproveito para tampar aquela velha foto em Nova York. O sorriso era tão verdadeiro ali. A felicidade também.

Um dia, se você sentir falta, eu te devolvo o Neruda. Em troca você devolve a minha felicidade?

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Deixei você ir

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Os primeiros dias foram os piores. Uma queimação, um sufocamento, aquela sensação de nunca mais ser capaz de respirar fundo novamente. Pra qualquer lugar que eu olhasse, era a sua imagem saindo pela porta, sem olhar para trás, que eu via. Como se alguém tivesse colado aquela maldita imagem na lente dos meus óculos.

Por um momento, achei que nunca mais me livraria de você. E não é que eu tenha me livrado, mas aprendi a mudar o foco. Não sei bem como. Só sei que um dia, como a tempestade lava tudo que encontra pelo caminho, deixei que uma tempestade lavasse você, seu cheiro, suas marcas de mim.

Me desfiz de tudo o que te mantinha preso aqui e, quer saber? Finalmente voltei a respirar.

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