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Você foi o amor da minha vida… por uma noite

 

 

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Você acredita em amor à primeira vista? Eu não acreditava até entrar na boate escura e abafada. A festa até tinha uma temática bacana e meus amigos garantiram que eu ia me divertir. Só precisava abrir a mente, tomar uns shots de tequila e deixar que o álcool liberasse meu outro eu, aquele que pouco se lixa para a ressaca moral no dia seguinte.

Seria apenas mais uma festa, daquelas que eu pouco me lembraria no dia seguinte. O gosto amargo na boca sempre abafa qualquer possível lembrança. Mas acho que dessa vez nem a pior ressaca do mundo me faria esquecer você, dona absoluta da pista. Dona absoluta de si. E, por isso mesmo, todos os homens do lugar só tinham olhos para você. E você ali, sem dar confiança pra nenhum deles e nem pra mim. A música e a coisa rosa que você bebia pareciam suas únicas companheiras e você estava satisfeita com o prazer que elas estavam te proporcionando. Para quê acrescentar mais alguém a essa equação?

Me sentindo como o garoto que espia a vizinha trocando de roupa fiquei ali, absorvendo cada gota de você, como você fazia com a sua bebida. Memorizando cada gesto, cada movimento. Parecia ter voltado à adolescência, sem coragem de me aproximar, mas é que você tinha algo que parecia gritar, nem vem! E eu como um menino obediente não fui.

Mas você foi, foi o amor da minha vida. Pelo menos por esta noite.

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A bailarina

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A suave melodia foi o que primeiro me atraiu até a janela dos fundos do pequeno estúdio, mas então, logo meus olhos estavam presos na belíssima imagem que se desenrolava lá dentro. A menina alta, esguia e sensual era linda, mas não foi isso que quase me fez perder o fôlego e sim a forma quase etérea com que ela rodopiava de um lado ao outro da sala. A bailarina dançava e isso era a única coisa que importava. Não havia contas para pagar, amores mal-resolvidos, dúvidas existenciais, nada, havia apenas a bailarina e sua dança.

E na dança ela estava inteira, sem máscaras, sem subterfúgios e em cada movimento ela se desnudava mais diante dos meus olhos. Em cinco minutos observando a bailarina eu sentia que a conhecia mais do que conhecera qualquer mulher com quem me relacionara em e por anos. Ela não tinha medo de ser ela mesma, de mostrar seus medos, suas angústias, seus sonhos, suas imperfeições. Afinal, a bailarina sabe que a beleza está nas imperfeições.

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Havia algo de melancólico na música e nos movimentos ora bruscos ora lentos, na forma aparentemente sem controle com que seu corpo se movia para cá e para lá. Olhando de fora, parecia que a bela bailarina fazia amor com a melodia que soava de um velho toca-discos no chão da sala, perto da porta. E do encontro do seu corpo com as notas musicais surgia o movimento hipnotizante e eu, como um voyeur, mal respirava.

Aliás, a sensação é de que seguia sem respirar enquanto voltava a caminhar, descendo a rua lentamente rumo a mais um dia de trabalho, me perguntando como seria se eu pudesse entrar na sua vida, se eu pudesse tomá-la em meus braços e rodopiar com ela pela sala. Ela me permitiria entrar? Se mostraria inteira, como havia se mostrado sem saber? Ou foi tudo uma miragem e só a melodia suave pode realmente conhecê-la por inteiro?

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