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Pra que fingir?

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– Você vai na festa da Iza e do Rô amanhã?

– Ainda não sei.

– Por quê?

– Sei lá, pode ficar um clima estranho. Você não acha?

– Não.

– Além do mais, não sou mais da família.

– Não vai ter só família. Além do mais, tenho a impressão de que pra minha família você é mais família do que eu.

– Não sei, vou pensar.

– Eu acho que você deveria ir. Não vai ser a mesma coisa se você não estiver lá.

– Que merda, Beto. Para com esse joguinho, cacete. Eu juro que tento, mas eu simplesmente não consigo entender o que você ainda quer de mim. Porque fica fazendo esse jogo, mandando esses sinais em vez de me deixar ir de uma vez. Foi você quem decidiu que não me queria mais. Foi você quem deixou muito claro que eu estava atrapalhando a sua carreira brilhante.

– Você nunca vai me perdoar por ter dito isso, né?

– Quem sabe se você nascer de novo, me procurar, rastejar e… não, nunca!

– Tudo bem, um dia eu vou te vencer pelo cansaço.

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– Não, não vai. Eu sei que a gente vai ser obrigado a conviver pro resto da vida, mas você não precisa fingir estar feliz com isso.

– Mas não é fingimento.

– Como eu estava dizendo, vamos apenas agir como duas pessoas educadas. Um oi como vai? ao chegar e pode sair à francesa e pular as despedidas.

– Não precisa ser assim.

– Precisa. Você decidiu assim. Não vem dar uma de garoto arrependido agora. Você escolheu isso ao partir o meu coração em tantos cacos que eu estou tentando juntar todos os pedaços até hoje.

– Eu errei, tá legal? Me arrependi no instante em que você saiu pela porta e eu soube que daquela vez tinha sido pra valer, que você não ia voltar nunca mais e que com você a melhor parte de mim tinha ido embora também. Me arrependo sim e vou lutar até o fim pra que você entenda que eu posso ter perdido o seu amor, mas que eu me contento com qualquer migalha que eu possa ter, mesmo que seja saber que você vai estar na mesma festa que eu.

– Diz a pessoa que já colocou outra no meu lugar.

– Ela nunca vai ser você.

– Você é tão babaca…

– E então, você vai na festa da Iza e do Rô amanhã?

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Carta para dizer adeus

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Meu amor, se você estiver lendo essa carta é porque a cirurgia deu errado e eu não estou mais neste plano. Se isso aconteceu, eu sei que você deve estar me odiando neste momento por não ter te contado sobre a cirurgia antes e por não ter te dado a chance de estar ao meu lado, de se despedir de mim. Deve estar tentando entender porque eu faria isso com alguém que eu dizia amar tanto. E foi justamente por te amar que eu não quis que você ficasse preocupado comigo. Não quis que você tivesse que ver o medo em meus olhos, o tremor em meus lábios. Não quis que você tivesse que tentar me passar conforto enquanto você também sofreria em silêncio, sem ninguém para te confortar. Eu te amei, eu te amo e, por favor, tente entender que foi por te amar tanto que tomei essa decisão.

E é também por te amar tanto que eu me sinto no direito de te pedir algo: seja feliz! Não hoje, não nesse momento, não com raiva, mas sinta tudo isso, viva a sua dor por algum tempo – o tempo necessário, não o prolongue além da conta – e então volte a olhar para o mundo como um ser curioso, volte a abrir espaço para que o inesperado aconteça, volte a ver cores a sua volta e deixe a felicidade invadir a sua alma e o seu coração novamente. Seja feliz e eu poderei sentir um pouco de paz, onde quer que eu esteja.

Por favor, nunca se sinta culpado por estar vivendo a sua vida, achando que isso é algo errado. Dizem que as pessoas só morrem de verdade quando ninguém mais se lembra delas e eu sei que você vai sempre se lembrar de mim, com cada vez menos dor e espero que com menos raiva também. Não me esqueça completamente e eu continuarei viva. Só não faça da minha lembrança algo que te puxe para trás, algo que te impeça de ser feliz. Entenda que eu não quero isso. Eu nunca desejaria algo assim para você. Eu te amo e é por isso que eu sempre vou querer a sua felicidade.

Espero que seja feliz e que me perdoe um dia.

Com amor,

Ana

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