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Carta pra te dizer que vai passar

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Tô cansada sabe? Cansada de fingir que não estou sentindo nada. Cansada de fazer minha razão lutar contra o meu coração. É cansativo pra caramba sabia? Tentei não sentir, briguei comigo mesma dizendo que eu não podia sentir nada, mas a verdade é que não tá sendo fácil. Quando o dia finalmente chegou, a dor que eu tentei esconder e impedir de vir a tona venceu e chegou junto. Tá doendo sim. Não vou mais fingir.

Por favor, menino, não me entenda mal. Nada mudou. Continuo certa das decisões que tomei, certa de que não fomos feitos para ser, pelo menos não juntos, não nesse momento, mas não é por isso que te ver dizendo sim para outra não vai doer. O coração não é racional assim. Quem dera fosse. Talvez fosse mais fácil.

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Faz sentido a sensação de perda hoje ser maior do que no dia em que terminamos? Ou essa vontade de querer te ver uma última vez, pra olhar nos seus olhos e procurar a certeza da decisão que você está tomando e saber que você não está fazendo isso apenas por medo de ficar sozinho? Faz sentido eu estar triste, mas ao mesmo tempo só querer que você seja feliz, menino? Mesmo que isso signifique te dar adeus para sempre?

Você já se sentiu como se estivesse submerso e não conseguisse subir para a superfície? É assim que tenho me sentido nas últimas semanas, ou talvez desde o dia em que recebi a notícia. Tomei um choque tão grande e quando vi estava debaixo d’água, me debatendo, lutando contra os meus sentimentos para voltar à superfície, ao controle da minha vida, mas era como se cada vez que eu estivesse para conseguir sair da água uma onda viesse e me levasse novamente para o fundo.

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É engraçado que em momento algum, enquanto me afogava, eu repassei a nossa vida juntos. O que me faz ver que não estou triste pela gente, estou triste pelo apego que ainda sinto em relação a você. O nosso nós já foi enterrado há tanto tempo e ele já doeu tudo o que tinha que doer. Isso só me dá uma certeza, o dia de hoje vai doer, mas finalmente eu vou sair da água e voltar a respirar livremente outra vez.

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As lembranças que você deixou em mim

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Essa é mais uma daquelas cartas que escrevo para você e sei que não vou enviar. Na verdade, nem sei se escrevo mesmo para você ou se faço isso na esperança vã de que as lembranças suas tragam de volta o meu sorriso, a alegria aos meus olhos… Dizem que amor não se mendiga, amor se sente e é uma pena que dificilmente duas pessoas o sintam na mesma intensidade. Deus, como eu te amei. Como eu te amo. Mas acabou pra você e eu fiquei aqui olhando para as paredes e tentando entender onde estavam os sinais, se você havia me demonstrado em algum momento que o seu sentimento por mim estava se esvaindo como areia por entre os dedos.

Você se foi e eu fiquei parada nas lembranças, incapacitada nas memórias das coisas que fazíamos a dois e que agora não sei mais fazer sozinha. Não ouço aquele disco da Elis há um tempão, porque sentar na varanda na sexta à noite com um bom vinho nas mãos tendo Elis de fundo musical era coisa nossa, não minha sozinha. Aliás, quebrei todas as taças. Não preciso mais de duas taças para beber com você e sozinha posso beber direito da garrafa. Posso imaginar a sua cara se lesse isso, o ar de desaprovação me chamando de garota deprimente e talvez eu seja mesmo, mas é que as lembranças arranham e machucam tanto quanto os cacos de vidro. Elas rasgam por dentro e eu cansei dessa sensação. Cansei não, eu simplesmente não aguento mais essa sensação. Cada um lida com as lembranças como pode e você sempre me acusou de ser passional demais. Talvez eu seja mesmo.

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Eu queria poder voltar no tempo com você. Direto para aquela época em que ainda éramos felizes e tudo estava no lugar. Ainda tínhamos duas taças de vinho no armário. Ainda saíamos com os amigos, mas você logo insistia para irmos embora para me ter só para você, alojada em seus braços, encaixada em seu peito. Mais do que tudo, uma época em que você ainda olhava e voltava para mim todos os dias. Uma época em que eu ainda sorria e os meus olhos eram alegres.

Mas o tempo não volta e enquanto isso eu continuo aqui tentando arrancar à força as lembranças suas, e minhas, que você deixou em mim.

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Certifique-se de se levar por inteiro

Índice

Você foi embora. Até aí tudo bem. Quer dizer, tudo bem nada, mas você estava sendo honesto com os seus sentimentos e fez o que achou ser o certo. Se eu não estiver com muita raiva no momento até consigo entender isso e admirar a sua atitude. Mas se era pra me deixar de repente, na calada do amor, que levasse tudo com você. Não sou obrigada a abrir a gaveta do banheiro e ser tomada como que por assalto pelo seu cheiro. Nem a  abrir o armário da cozinha e encontrar as latas organizadas por rótulos e tipo de alimento, me obrigando a derramar quase meio vidro do meu perfume preferido no banheiro, para que o meu cheiro se sobreponha ao seu e a fazer uma faxina na cozinha em pleno domingo às sete da manhã. Pelo menos as latas agora estão sem rótulos. Gosto assim, de surpresa, de não saber o que posso encontrar ao abrir determinada lata que pode ser de um monte de coisas. Se a vida é uma caixinha de surpresa por que não fazer o mesmo com as latas na cozinha?

Quanto a você, da próxima vez que for embora, certifique-se de se levar por inteiro.

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O Fim

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― Por favor, não chora.

― Não se preocupe, eu não vou fazer uma cena, gritar para todos os vizinhos ouvirem.

― Não é isso. É só que eu nunca soube lidar com o seu choro. Ele dói aqui dentro de tal maneira que quando vejo quero unir o meu choro ao seu.

― Você é estranho.

― Estranho ou não, eu me importo com você.

― Você se importa?

― Claro que sim. E quer saber? Sempre vou me importar.

― Mas…

― Não tem mas nenhum. Não é porque não deu certo que vou deixar de me importar, que vou girar uma chave qualquer dentro de mim e deixar de te amar. A gente só não quer mais as mesmas coisas.

― Nunca entendi esse negócio direito.

― Que negócio?

― De não estar mais na mesma página que o outro. Quando foi que você passou a virar as páginas mais rápido? Ou foi a minha miopia que foi me fazendo ficar cada vez mais para trás?

― Não sei, mas sei que achei linda essa sua forma de apertar os olhos para tentar enxergar melhor. Fica sexy. Na verdade, foi a primeira coisa que reparei em você, parada no meio da Paulista, parecendo perdida, os olhos apertados tentando ler a placa do outro lado da rua.

― Como eu disse… estranho!

― E você, não vai dizer a primeira coisa que te chamou a atenção em mim?

― O jeito de menino despojado com os óculos quadrados e a barba por fazer contrastando com a camisa da Hollister. Aliás, posso ficar com ela?

― Eu achava que você detestava aquela camisa.

― Detesto, mas é pra eu ter algo com o seu cheiro, pra quando a saudade apertar.

― Você sempre pode vir aqui sentir o cheiro pessoalmente.

― Não acho que nossos futuros companheiros vão gostar dessa ideia.

― É, não tinha me dado conta de que você provavelmente não vai ficar sozinha por muito tempo.

― De nós dois, não sou eu quem não sabe lidar com a solidão.

―É, talvez você tenha razão.

― Nove anos de relacionamento e você ainda não aprendeu que eu sempre tenho razão?

― Sempre tão convencida.

― Então… acab…

― Não fala.

― Por quê?

― Porque quando você pronunciar essas palavras e sair por aquela porta tudo isso vai se tornar real.

― Eu não entendo, foi você mesmo quem disse que seria o melhor pra gente.

― Eu sei, mas nem por isso a dor é menor.

― Vem cá. Deita aqui no meu colo. Deixa eu te fazer um cafuné como quando você chegava cansado do trabalho.

― Eu vou sentir falta disso.

― Ei não é justo, não chora…

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Não me esqueça

nao-me-ensinaste-a-esquecerTrilha: Someone Like You – Adele

Eu ouvi dizer que você está se casando hoje e contra todos os prognósticos de familiares e de amigos em comum, não é comigo. Não que algum dia eu tenha sonhado em casar com você, ter dois filhos que receberiam os nomes do meu avô e da sua bisavó, um labrador e, um dia, envelhecer ao seu lado em uma casa na praia. Pelo bem de nós dois vamos fingir que nunca fui esse tipo de garota.

O que não dá pra fingir é que não está doendo. Porque dói saber que nunca mais aquele sorriso de lado vai ser pra mim, que os encontros fortuitos na praia, de madrugada, não vão mais acontecer; pelo menos não comigo. Dói saber que você não vai mais deixar seu cabelo crescer além da conta só para que eu possa puxá-lo com vontade ou vai deixar a barba no ponto exato para me deixar louca ao roçar na minha pele. Não, nada mais na sua vida vai ser pra mim. E enquanto penso em você e escrevo essas linhas, percebo que o que mais dói é pensar que logo você vai me esquecer.

livros

Eu sempre odiei a falta de amor-próprio de garotas que imploram, mas eu te imploro, não me esqueça. Não pense em mim em todos os momentos, isso não seria justo com ela, mas lembre-se de mim ao ver alguém comendo primeiro a sobremesa em um restaurante; lembre-se de mim ao passar em frente àquele cinema que costumávamos frequentar toda terça à tarde e se pergunte, pelo menos por um instante, se eu estarei lá dentro; lembre-se de mim ao entrar em uma livraria, e de como você achava engraçado aquela minha mania de fechar os olhos e sair passando as pontas dos dedos pelas lombadas dos livros de uma determinada prateleira, como se fôssemos apenas eu e os livros ali. Mas cuidado para não ser pego com um sorriso no rosto, isso poderia gerar perguntas difíceis de serem respondidas.

De meu lado, prometo não te esquecer também. Você estará sempre em minha memória quando eu estiver pensando no amor. Porque nem sempre dá certo e às vezes dói, dói muito, mas você estará sempre entre os meus amores mais bonitos. Mas é que tem horas que não adianta lutar, porque às vezes o amor dura e outras vezes, em vez disso, ele machuca.

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A gente sabe

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Dizem que a gente sabe. E eu soube, no exato momento em que você entrou pela porta e seu olhar passou direto por mim sem nem ao menos um sinal de reconhecimento. Então era assim que tudo chegaria ao fim? Você atravessou a sala e o azul dos seus olhos, que antes me fazia lembrar do mar e me trazia calma, mais parecia um iceberg; e, de repente, me vi congelando de frio, mesmo nos 40 graus do verão carioca. Seria aquele o famoso olhar de adeus?

Meu olhar continuou seguindo o seu contorno, seus passos firmes em direção ao quarto e, encolhida no sofá, ainda gelada pelo frio dos seus olhos, implorava baixinho dentro de mim: não me deixe, não me deixe. Volte a ser o meu mar particular. Mas como sempre, você não me ouviu. Você nunca ouviu.

Mesmo sem ver eu era capaz de saber exatamente o que se passava no quarto. Podia te ver andando até o closet e dobrando camisa por camisa, meia por meia antes de colocá-las, por grupos de cores, dentro da mala que compramos juntos em Bariloche. Porque nem mesmo em um momento como esse você deixaria sua organização de lado. Não, ao contrário de mim, você nunca perde o controle. E como tudo o mais, aquela ação não levaria mais do que 15 minutos. E como um maldito relógio que nunca atrasa, ali estava você novamente, parado à minha frente e, por alguns breves segundos tive a esperança de que você fosse dizer alguma coisa, fosse me implorar para te fazer mudar de ideia, te pedir pra ficar, mas então você apenas soltou um suspiro, pegou a mala e, mais uma vez, virou as costas pra mim.

E então, quando o som da porta batendo me atingiu, eu soube que nunca mais veria o mar com os mesmos olhos.

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