
– Lembra de quando a gente se conheceu?
– Claro que lembro. Você me usou de fonte para aquela matéria maluca e eu soube que estava perdido no momento em que você entrou naquele estúdio.
– Eu te achei tão convencido… mas ainda assim as coincidências me fizeram aceitar a carona e o chope depois da entrevista.
– Lembra do que eu te disse mais tarde naquele dia, enquanto nos recuperávamos na minha cama?
– Que você não queria compromissos.
– E ainda assim fui me comprometendo cada vez mais com você, sem nem me dar conta do quanto estava envolvido.
– E um belo dia deixou de se comprometer, de se envolver… Quando foi que nos tornamos aquele casal que sempre detestamos tanto, que só sabe cobrar e criticar o outro?
– Não sei, mas deve ter sido na mesma época em que começamos a focar de mais no trabalho e de menos um no outro.
– Quando você começou a focar de mais no trabalho, você quer dizer, né?
– A culpa nunca foi só minha.
– Quem está falando em culpa? Mas você vai negar que seu trabalho sempre veio em primeiro lugar? Que você nunca tinha tempo pra viajar, pra fazer planos… Isso é o que mais dói, sabia? Com ela você parece ter todo o tempo que nunca teve comigo.

– A gente aprende com os erros cometidos.
– Você tá me chamando de erro?
– Claro que não. Você foi o meu maior acerto, isso sim. Estou falando da falta de tempo, da falta de planos… de não ter me dado conta que você estava me escapando pouco a pouco, como areia por entre os dedos. Posso fazer uma última pergunta?
– Claro.
– Você se arrepende dos últimos nove anos?
– De verdade? Nunca. Você me fez sofrer muito, me fez chorar mais do que eu acharia humanamente possível, me machucou mais do que pode imaginar. Mas também me fez amar como nunca tinha amado antes, me fez rir em mais momentos do que sou capaz de contabilizar, me fez acreditar, me deu motivos para sonhar e para lutar pelos meus sonhos, me ensinou a lutar por aquilo que eu quero e desejo para a minha vida. Não deu certo, mas você foi o amor da minha vida pelos últimos nove anos e vai sempre fazer parte da minha história, mesmo que agora eu queira trancar essa história em uma caixinha qualquer e esconder a chave, para evitar a tentação de revisitá-la de tempos em tempos. Não me entenda mal, mas é que ainda dói. Mas não se preocupe, vai passar, um dia eu vou ser capaz de abrir a caixinha e apenas sorrir, tomada pelas boas lembranças do que vivemos juntos.

– Obrigado.
– Pelo quê?
– Por todo o amor que você me deu.
– Não é algo pelo qual tenhamos controle.
– Eu sei, mas ainda assim você foi muito mais do que eu poderia esperar. Você me ensinou a amar de novo e isso não é pouca coisa.
– Pena que não foi suficiente…
– Você vai encontrar alguém melhor do que eu.
– Não tenho dúvidas disso. Pena que você não vai ter a mesma sorte!