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Eu choraria por você

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Eu nunca achei que você cumpriria a promessa e que um dia sairia por aquela porta. Eu devia ter percebido os sinais, ter notado que estava ultrapassando os limites, mas achei que você precisava mais de mim. Foi preciso que você fosse embora para que eu percebesse que sou eu quem preciso de você. E agora eu não sei o que fazer. Não sei como implorar pelo seu perdão e te fazer voltar. Eu diria que estou arrependido se acreditasse que isso te faria voltar. Eu me ajoelharia aos seus pés, repetiria o quanto te amo, mas quase vejo sua cara de impaciência diante desse meu discurso.

Tô aqui vulnerável sem você. Meus olhos sempre secos estão cheios d’água e eu não sei lidar com esses sentimentos com os quais não estou acostumado. Você que sempre me acusou de ser muito frio não imagina como ando emotivo desde que você se foi. Foi preciso te perder para que minha razão e emoção encontrassem um equilíbrio? Eu abriria mão da emoção para te ter de volta, mas então você me acusaria de ser racional demais e voltaríamos para o ponto de partida, você saindo por aquela porta com todas as suas coisas para nunca mais voltar, chorando por mim e por você. Chorando as lágrimas que não consigo derramar nem por mim nem por você. Chorando as lágrimas que eu gostaria de derramar por você.

Então sigo em frente, digo pra todos que estou bem, rio de piadas sem graça, porque foi isso que me disseram para fazer. Me ensinaram que meninos não choram, mas não me ensinaram o que fazer com a água que insiste em se acumular em meus olhos quando penso em você.

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Olhos mudos

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Frequentemente me deparo com a pergunta: “o que é o amor?” e sempre acho dificílimo responder. Como qualquer sentimento, é mais fácil sentir do que transformar em palavras o que se sente.

Mas existem pessoas, casais, que são exatamente da mesma forma, basta olhar para elas e sabemos: é amor. Os olhares se encontram e se comunicam, eles não precisam de palavras deixando suas bocas para se entenderem. Os olhares dizem “eu te amo”, mas dizem também “eu te entendo”, “estou aqui para o que der e vier”, “eu te apoio”, “vá em frente” e até mesmo “nem vem, que neste momento quero ficar só”. Porque amor não é sinônimo de estar junto 24 horas por dia, sete dias por semana, mas entender e respeitar a individualidade do outro, o espaço do outro. Amar não pode ser dois que se tornam um, mas dois que resolvem caminhar juntos por um tempo, seguir o mesmo caminho. Quanto tempo dura esse tempo? Ninguém pode dizer, mas quando o respeito e a cumplicidade são tão valorizados na relação quanto o amor, esse tempo costuma ir aumentando, aumentando…

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Houve um tempo em que nossos olhares costumavam falar entre si, hoje eles são craques em se evitarem, mas se por um acaso eles se cruzam há apenas silêncio e nada mais.

 

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Você tem medo de quê?

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Quem é você? Mas o você de verdade, não esse personagem que se esconde atrás dessa máscara de indiferença que insiste em usar. Às vezes me pergunto se o personagem é este ou se fui tão cega esse tempo todo e na verdade o personagem era aquele jovem descolado e de bem com a vida que você usou para me convencer a tomar uma cerveja um dia, um cinema depois, até acabarmos nesse espiral de silêncios. Olho para você e sinto vontade de chorar ao me dar conta de que não há nada pior do que ver quem já foi seu tudo se tornar um mero estranho dentro da mesma casa. Eu não te reconheço. A impressão é de que não te conheço mais. Cá entre nós, algum dia conheci? Já não tenho certeza.

O nosso amor se transformou em bom dia e não há nada que eu possa fazer enquanto você insistir em sentir medo e em se fechar, permitindo que o medo ganhe. O problema é que o seu medo de ser feliz, de se deixar ser amado, de ter uma vida de verdade não interfere apenas na sua vida, mas na de todos aqueles que ainda se importam com você. Sim, ainda, porque vai chegar um momento em que esse número vai ser cada vez menor. Se você abrir os olhos e olhar ao redor por alguns meros segundos já será capaz de perceber a mudança. E quer saber, eu não sei se aguento por muito tempo mais não.

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Sendo sincero, você tem medo de quê? Ninguém é perfeito e se quer saber a minha opinião, a perfeição é supervalorizada e é chata. Medo de levar um pé na bunda? Desculpa querido, mas ao se fechar dessa forma e ao afastar as pessoas você não evita esse momento que faz parte da vida de todos. E olha, ninguém nunca morreu por levar um fora. Dói, é chato pra caralho, mas a gente supera e tanto supera que parte pra recomeçar tudo de novo, sempre esperando um novo alguém que seja diferente, que vai fazer todo aquele sofrimento do primeiro encontro valer a pena.

Tira essa máscara, se abra para o que a vida está te oferecendo nesse momento, experimente. Rir e chorar fazem parte da vida e ambos são importantes. Evitar o sofrimento é a maior mentira que existe porque isso só faz com que a gente sofra ainda mais e faça as pessoas ao nosso redor sofrerem também. E aquele garoto descolado que trombou em mim um dia na Paulista e me convidou para uma cerveja como um jeito nada convencional de pedir desculpas não ia querer isso. Pelo menos ainda prefiro acreditar que não.

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Naquela estação

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Enquanto caminho pela estação lotada de gente, todos apressados querendo pegar logo o próximo trem rumo às suas casas ou aos seus compromissos, me pego pensando em nós. Já houve um tempo em que tudo o que eu queria era chegar logo em casa, ser recebida pelo seu abraço de urso, seu sorriso que me dizia que todas as preocupações haviam ficado do lado de fora da porta e que éramos apenas nós dois ali; e isso era tudo o que nos bastava. Você era tão bom nessa coisa de me passar confiança.

Enquanto desço rumo à plataforma, encaro cada rosto na expectativa de que o seu se destaque em meio à multidão. E me vejo criando todo um diálogo na minha cabeça onde parecerei surpresa de revê-lo, como se nunca pudesse imaginar tamanha coincidência. Afirmarei que estou bem, feliz e vivendo o melhor momento da minha vida. Embora eu saiba que você vai perceber que tudo não passa de uma grande mentira ao encarar os meus olhos vagos e os meus lábios trêmulos, mas será cavalheiro o suficiente para não comentar nada. Como quem não se importa muito, perguntarei sobre a sua vida, tentando captar um sinal em cada migalha de informação que você se disponha a me fornecer. Nos despediremos como dois meros conhecidos que não se viam há muito tempo e seguiremos nossos caminhos, você rumo à vida que escolheu quando decidiu sair de casa trocando nossos planos e sonhos conjuntos por algo só seu; eu para uma casa vazia, sonhando com um passado recente em que um abraço de urso me recebia assim que eu atravessava a porta e me garantia que tudo ficaria bem.

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Eu quero a minha vida de volta

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Tem dias que eu acordo e sinto uma raiva tão grande de você, mas aí acabo me sentindo culpada e isso torna tudo ainda pior porque eu sei que não foi culpa sua, não foi uma escolha, mas ainda assim você me deixou e um dia, debaixo daquela amendoeira que havia na porta do nosso prédio, você jurou que nunca me deixaria. E de todas as promessas que você me fez, essa era a única que eu queria que nunca tivesse sido quebrada.

Dói acordar todos os dias e saber que não vou ver seu sorriso, não vou ouvir suas piadas sem graça – eu daria tudo para ouvir cada uma delas mais uma vez -, não vou ouvir suas reclamações quando eu te pedir para buscar pão. O não torna a ausência mais pesada e essa casa agora parece um local em constante obra, onde posso ouvir o não ressoando como uma marreta sobre a parede. Não, você não está aqui. Não, você não vai voltar. Não, não há nada que eu possa fazer. Não, não, não…

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Você me disse que eu tiraria isso de letra, que era só eu ser forte como sempre fora, mas eu não quero ser forte, não quero mais ver os olhares de pena na minha direção, o silêncio sepulcral quando alguém deixa escapar o seu nome perto de mim, como se fosse um crime condenável à pena de morte citar o seu nome ou até mesmo pensar em você perto de mim. Ah se eles soubessem que eu penso em você o tempo todo e que provavelmente ainda falo o seu nome enquanto durmo, como você adorava me contar que eu fazia, com aquele ar provocador, pela manhã.

A verdade é que não é só com a sua ausência que eu tenho que me acostumar, pois não foi só isso que mudou. A sua morte me transformou na coitadinha, na amiga que não merece saber ou ver a felicidade das outras, afinal isso não é justo com ela; a pessoa que faz o clima mudar quando chega, mesmo que ela não queira. Você morreu e eu sinto a sua falta todos os dias, mas eu fiquei e quero a minha vida de volta!

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O louco

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Subir aquela rua era a melhor parte do seu dia. Fingia não ver as risadinhas das meninas sentadas na árvore em frente ao famoso colégio, mas não se importava. Aquele era o seu momento, o momento mais esperado do dia, quando podia novamente sentir sua amada entre os braços, mesmo que fosse nos segundos efêmeros em que o vento, que sempre parecia soprar mais forte naquela esquina, atravessava o seu corpo. Ao abrir os braços, como que para recebê-la, ele podia sentir uma vez mais o seu perfume floral, a sensação dos cabelos compridos roçando pelo seu rosto e seu pescoço. E tudo o que ele gostaria, naquele instante, era de poder parar o tempo, parar o vento e mantê-la ali, com ele, como há muito tempo não podia mais.

Sabia que as pessoas que o viam subir uma das principais ruas da cidade e abrir os braços diante do nada o consideravam louco, mas louco ele havia sido anos atrás, ao deixar o amor da sua vida escapar por entre os seus dedos, por uma bobagem, pela maldita falta de confiança.

Ele viajou para tentar esquecer o que, mal sabia, nunca lhe sairia da cabeça. Ela, caluniada, sozinha, entrou em desespero e se enforcou, usando um dos galhos daquela árvore onde diariamente as meninas de uniforme sentavam para fofocar, provavelmente para falar das dores e das alegrias do amor. Ah, a juventude, elas ainda teriam tanto o que viver, o que aprender… quanto a ele, só lhe restava a culpa e os efêmeros segundos em que podia fechar os olhos e voltar ao passado. Ah se ele pudesse ser jovem novamente…

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